quinta-feira, 13 de junho de 2013

Um bebê imaginário

Permanece um ponto de interrogação em minha carreira. A história de uma mulher supostamente grávida. Faz tanto tempo que exame de ultra-sonografia nem existia em Bauru, no interior de São Paulo. Eu trabalhava na TV Bauru, em início de carreira.

Fui chamado pelo chefe de reportagem, Luiz Antônio Malavolta. Existia a denúncia de que um bebê havia sido sequestrado de uma maternidade. Um caso inédito na cidade. Fomos encontrar a mãe que fazia a denúncia, em um bairro pobre de Bauru.

Ela já tinha outros filhos, se não me engano três ou quatro. A mulher era quarentona. Contou uma história coerente e mostrou documentos. Receitas médicas normalmente associadas ao acompanhamento de uma gravidez. O tratamento dado aos pacientes do INPS (que precedeu o SUS) era sofrível. As filas eram enormes nos postos de atendimento. Não era incomum a consulta durar de cinco a dez minutos.

A mãe que fez a denúncia nos contou que parou de menstruar, que os seios aumentaram de tamanho, que sentia as náuseas típicas da gravidez e que chegou a produzir leite. No dia marcado para o parto, apresentou-se na maternidade. Saiu de lá sem o bebê. Estava certa de que a criança havia sido seqüestrada. Fomos ao hospital investigar a denúncia.

Enfermeiras e médicos ficaram nervosos com a presença da equipe de reportagem. No arquivo do hospital, havia o registro da presença da paciente no dia marcado para o parto. Mas, na hora agá, os médicos nada encontraram na barriga da mulher. Fizeram apenas uma curetagem.

O diretor do hospital apresentou uma explicação: tinha sido um caso de pseudociese, uma falsa gravidez, um episódio psíquico. Ansiosa para ter mais um filho, porque estava próxima da menopausa, ou talvez para atrair a atenção de um marido distante, a mulher tinha produzido todos os sinais de uma gravidez inexistente.

Fiquei surpreso com a explicação, mas apurando com especialistas confirmamos a possibilidade. São casos raros, registrados na literatura médica. Provam o poder da mente humana. Fui conferir a definição de pseudociese em uma enciclopédia médica:

“Gravidez imaginária em mulheres em geral resultam de um forte desejo ou necessidade de reprodução. A menstruação deixa de acontecer ainda que não haja concepção. O abdômen e os seios incham, podendo produzir leite. O útero pode mostrar sinais de gravidez e os exames de urina podem dar falsos positivos. A mulher pode ter a sensação de movimentos do feto. (…) Há indícios de que a depressão pode provocar alterações na glândula pituitária, provocando mudanças hormonais similares às que ocorrem na gravidez real”.

Foi um alerta para o repórter em início de carreira: em Jornalismo, nem tudo é o que parece.

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